sábado, 12 de março de 2011

A Agricultura “Business” e a Agricultura “De Feira”

Desde há muito se tem destacado a importância agrícola no aumento do PIB (Produto Interno Bruto), que hoje, em sua totalidade, chega a R$ 180,8 bilhões. A agricultura responde por cerca de 5% disso (O Estadão, 2010).

É claro que essa agricultura sempre citada nos noticiários se trata dos grandes produtores de grãos e criadores de gado (o Brasil ocupa o lugar de maior exportador de carne bovina do mundo), que estão na região centro-oeste do Brasil.

Podemos dizer que essa alta produtividade está intimamente associada ao elevado nível tecnológico desses grandes produtores, que garante uma produção controlada, protegida e altamente rentável. Por exemplo, esses grandes empresários do campo podem contar com maquinários modernos que realizam trabalho de muitos trabalhadores no menor tempo possível, causando desemprego no campo. Isso faz com que se permita aumentar a área de plantio, onde muitas vezes, um bioma é ameaçado por essa extensão de área agricultável (vide os biomas amazônico, cerrado e pantanal no Centro-Oeste brasileiro). Esse tipo de agricultura é fortemente dependente de insumos externos, como fertilizantes, sementes e agrotóxicos. Além disso, o uso de insumos derivados do petróleo (como os fertilizantes e agrotóxicos) compromete a sustentabilidade do sistema de produção, uma vez que não garante um mesmo nível de produção no tempo, já que esses coadjuvantes externos já não possuem um horizonte de existência muito longe, dada a sua dependência por fatores finitos (como os derivados de carvão).

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                                                            Colheitadeira na lavoura da cana-de-açucar

O objetivo final desses business man é a exportação. É no consumo dos povos estrangeiros. Pra lá, se dirigem os melhores produtos, os de qualidade superior. E para nossas mesas, produtos medianamente aceitáveis.

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                                                    Plantação de soja no Centro-Oeste

Já podemos perceber que, se de um lado a “grande agricultura” é detentora de altos níveis produtivos, de outro, é causadora do empobrecimento do meio ambiente e esgotamento do solo, além de comprometê-lo, no processo do uso irracional de seus recursos e descarte de subprodutos da produção. E mais grave ainda: causadora de desemprego, forçando o homem do campo, detentor de grande conhecimento e sabedoria popular, migrar para os grandes centros urbanos, inchando-os e sendo ele mais um no exército de pedintes e executores de subempregos.

Em outra vertente, que também pode caracterizar o universo agrícola do Brasil, temos a parcela da sociedade rural que se destina a produzir em pequenos e médios espaços, sempre utilizando em menor ou maior escala recursos naturais disponíveis na propriedade, com certa racionalidade em seu manejo, permitindo, assim, que seu uso possa ser estendido ao longo do tempo, alcançando as gerações futuras.

Ainda no tocante ao meio ambiente, vale ressaltar que esses pequenos e médios agricultores possuem uma relação de respeito à mesma, uma vez que boa parte de sua produção está em função de recursos disponíveis no ambiente imediato, como por exemplo, os recursos hídricos, biodiversidade de espécies garantindo uma maior eficiência no controle biológico de pragas e doenças e produção diversificada ao longo do ano.

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                                                                             Pequeno produtor de tomate

Geralmente, essa pequena e média produção conta com o trabalho dos próprios membros da família ou eventuais contratações do trabalho de terceiros no momento de colheita da matéria-prima, e produzem, em sua maioria, folhosas, horticolas e frutas, que vão aos Ceasas das cidades e, muitas vezes, às feiras de bairro, sendo comercializados diretamente pelos produtores, permitindo uma relação de confiança entre produtor e consumidor. Assim, as teias de produção e comercialização caminham juntas, possibilitando o que se conhece por comércio justo.

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                                                        Feirinha de bairro

Podemos ver, então, que com a produção baseada na sustentabilidade e linhas de comercialização sólidas, a sociedade camponesa não vê motivos e nem sentido em “tentar a vida no sul”, fazendo com que o trabalho no campo, muitas vezes passados de geração pra geração, seja valorizado e motivo mesmo de orgulho.

Esse tipo de produção agrícola deveria contar mais com a ajuda de órgãos de financiamento oficiais. Mas isso é outra estória...