quarta-feira, 22 de junho de 2011

ANÁLISE DO FILME “PRECIOSA” SOB O OLHAR DA PSICOLOGIA DE VYGOTSKY

 

   Segundo a visão de Vygotsky, o desenvolvimento da criança se dá através do processo de internalização e este processo, por sua vez, resultará consequências comportamentais, que possuem profunda relação com o ambiente em que se vive, ou seja, pela interação sujeito – outro - objeto.

   Levando esse pensamento à produção cinematográfica “Preciosa”, este processo se deu de maneira negativa, uma vez que o ambiente familiar da personagem em questão era composto por cenários de brigas, agressões (físicas, psicológicas e emocionais) e até incesto causado por seu pai. Junta-se à isso o Bullying sofrido por ela na escola.

   O desenvolvimento cognitivo e social da personagem começa a partir do contato na relação social com sua professora, que é ela uma profissional séria, comprometida e capacitada e a mesma oferece apoio psicológico e emocional, permitindo um processo de solidificação da dinâmica do desenvolvimento da personagem. Além disto, a aprendizagem por observação nesta nova etapa foi extremamente positiva, influenciando diretamente nas novas escolhas e atitudes, como por exemplo, assumir o filho e não desistir dos estudos.

   Contudo, com base em Vygotsky, o processo de internalização da personagem se deu em duas etapas, sendo a primeira, caracterizada pelo sofrimento e dificuldade na expressão de seus sentimentos, e a segunda fase, caracterizada pela libertação de algumas amarras (conceitos à cerca dela mesma e de seu ambiente).

   E por fim, ao analisarmos os diferentes mecanismos de formação da personalidade e de seus mecanismos próprios de expressar ao mundo os resultados de suas próprias transformações interiores, percebemos que nenhuma criança ou adulto pode ser considerado como “pessoa perdida”, pois vimos que se há um ambiente positivo e que suscite a busca, no individuo, de transformações e construções interiores, qualquer pessoa pode mudar/transformar sua própria realidade, seja ela visível ou não.

sábado, 11 de junho de 2011

TRANSFORMAÇÃO SOCIAL PELA ESCOLA: UMA POSSIBILIDADE?

 

   A realidade educacional nos dias de hoje, principalmente no Brasil, parece borrar o quadro pintado por aqueles educadores que insistiam que o acesso à educação seria suficiente para acabar com toda a problemática do até então estado social idealizado: os indivíduos à margem dessa sociedade perfeita e sem máculas.

   Como meio de perpetuar todo um sistema de “eleição da elite dominante” em detrimento dos sonhos e direitos de uma classe dominada – o povo – a educação se volta contra àquelas pessoas que, na mais lógica e racional função, deveria oferecer meios ao individuo de tomar posse de seu papel no mundo, tanto em nível individual e coletivo.

   No que se refere aos cenários ideológicos que sustentam toda uma estrutura educacional, podemos perceber que, se de um lado a escola afirma que todo o processo de inclusão desses indivíduos que estão às margens de uma sociedade dar-se-á por meio do acesso á educação, ou seja, a aquisição (indiscriminada?) de conhecimentos permitirá ao individuo ter em mãos todas as ferramentas possíveis para que ele também, assim como todos os outros “bem sucedidos indivíduos”, alcance seu “lugar – no - topo”.

   No outro lado da moeda, há aqueles que argumentam que é ela, a escola, a máquina que acentua as desigualdades (por repetir toda a sistemática e dinâmica que perpetua a estadia da classe dominante no processo decisivo dos rumos de uma sociedade), impõe a segregação social (quando não permite que certos direitos indispensáveis, como cultura, por exemplo, não cheguem ou não se tornem acessíveis a todos os indivíduos pertencentes a uma coletividade) e quando realimenta o sistema, quando permite que tudo isso aconteça na sociedade, estabilizando-se mais e mais profundamente esse cenário.

   Se há um meio pelo qual as pessoas possam ter a oportunidade única de transformar suas próprias vidas e de seu coletivo, é, sim, pela educação. Disso, parece não haver mais dúvida.

   Contudo, o que se pretende compreender e transcender é por que a educação não efetiva a realização pessoal e íntima de alguns que a ela alcançaram. Por exemplo, como explicar a motivação que leva um cidadão a não compreender toda a sua realidade, mesmo tendo ele freqüentado até mesmo a universidade?!

   E o que pensar daqueles que nunca entraram num teatro por este lugar se encontrar, fisicamente, muito distante de sua realidade/ambiente? Cultura, para essas pessoas, é algo distante e inacessível e inviável com a realidade salarial da qual dependem. Torna-se, então, “coisa supérflua”, o que faz as classes dominantes respirarem tranquilamente, pois assim não dividirão seus ambientes refinados e sofisticados (mera e vulgar cópia do tão desejado primeiro mundo) com os trabalhadores dos portos, do campo e das indústrias.

Simplesmente lastimável.

   A educação, quando não transforma positivamente o individuo e sua coletividade, o afunda na lama movediça da desesperança. Nesse sentido, pensar que a educação reproduz todo um sistema escravizador e segregador não é estar sendo injusto, uma vez que essa realidade é a conseqüência direta da escola, quando esta decide fechar seus olhos para aqueles que precisam dela para poder, então, voltar a pensar numa melhor e digna condição de sua existência.

   A sociedade não é perfeita, e isso vemos todos os dias e em todas as situações. Pensar numa educação onde ela, por si só, seja suficientemente eficaz para possibilitar a entrada do individuo no mundo do sucesso soaria como, no mínimo, alta dose de ingenuidade, uma vez que está comprovado que há pessoas que não conseguem alcançar a promessa feita pelo sistema capitalista, que é o sucesso material e o reconhecimento/admiração de seus semelhantes pelo patamar atingido, mesmo atingindo altos graus de conhecimento.

   E essa promessa das mil maravilhas é defendida pela pedagogia tradicional, principalmente quando o assunto é relacionar a satisfação pessoal e sucesso material com o acesso ao conhecimento.

   Que o acesso a educação e conhecimento não são capazes de solucionar a problemática do individuo (ou grupo de indivíduos, como é o caso dos MST) marginalizado e excluído a todo tipo de dinâmica que acontece na sociedade (cultura, alimentação adequada, segurança, etc.) é um fato.

   A escola não conseguirá resolver o problema da marginalidade social por estar ela já estabelecida pelo sistema, ou seja, o modelo capitalista de desenvolvimento condena àqueles que não conseguem se adequar aos moldes próprios desse sistema ao isolamento e exclusão social e tem na escola sua principal ferramenta de identificação, tribunal, julgamento e condenação dessas pessoas.

… continua….