domingo, 10 de abril de 2011

Entrevista com Elizabeth Avelino

Hoje, estou trazendo uma entrevista com Elizabeth Avelino. Uma das idealizadoras dos CEUS, entre outros projetos importantes e de grande relevância no âmbito ambiental aqui em São Paulo, na gestão da Prefeita Marta Suplicy.

Um projeto super 'do bem', onde as crianças passam a maior parte de seu tempo se interagindo com educação, lazer e cidadania.

Abaixo, suas considerações.

bethinha

1) Temas em Geografia: Elizabeth, conte-nos um pouco sobre você.

Elizabeth Avelino: Elizabeth Avelino, 58 anos, nascida em Ubarana, mas criada em José Bonifácio, ambas no estado de São Paulo. Tenho graduação em Sociologia e Política e especialização em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo.

Participei de inúmeros projetos, mas destaco Despoluição de Cubatão, Implantação dos CEUs Centros Educacional Unificados (Governo Marta Suplicy). Como também Entre Serras e Águas, nome fantasia do projeto, Plano de Desenvolvimento Sustentável da Área de Abrangência da Fernão Dias.

 

2) T.G.: E as dificuldades em implantá-los, foram muitas? E na sua opinião, o que de fato faz uma boa idéia, um bom projeto andar tão devagar?

E.A.: Posso citar alguma. No caso de Cubatão, trabalhando na CETESB, nos encontrávamos na abertura, saindo da ditadura militar. O Governador Franco Montoro, resolveu criar um Plano de Despoluição de Cubatão, já que esta cidade era conhecida no mundo como “Vale da Morte”. Os técnicos se sentiram aliviados, poderíamos afinal tratar deste assunto como se deveria. Mas, não foi bem assim havia uma divergência que se manifestou imediatamente: o grupo que o projeto seria circunscrito Vila Parise e indústrias, e o grupo que eu fazia parte que proponha que o trabalho fosse feito em toda Cubatão, Vila Parise, incluindo as cotas na Serra do Mar. A resistência por parte da CETESB foi dura. Então estrategicamente, alguns técnicos do meu grupo fizeram uma pesquisa qualitativa com sociedade civil organizada e com governo local, que resultou em um documento que mostrava a nossa tese estava correta e a direção acolheu-a e começam um processo de educação ambiental.

Nos CEUs, no momento ouvi falar no projeto CEU, ele ainda não tinha o nome, mas concepção era clara, a exclusão social era e é premente. Como o projeto tem a muito que contar, escolho o começo onde as dificuldades eram muitas. A começar pelos terrenos, o “mito” não tem área em São Paulo para construir CEUs cai por terra, através de pesquisa de campo, levantamos 168 áreas para escolher os 21 CEUs, muitos dos outros terrenos se construiu creche, EMEIs, etc. Para segunda fase, para levantar os 24 CEUs, continuamos o levantamento chegamos a um banco de mais 300 áreas, parte delas públicas.

Em 2001, não podíamos contar com imagens georeferenciadas, então tínhamos que ir cada região respeitando divisão regional, e “amassando barro” fomos identificando os terrenos. A lembrança forte que me ficou, entre tantas, é que cada canteiro de obra ocupava uma área, a população se organiza e cada grupo ao seu jeito já fiscalizava a obra que seria de toda comunidade. A maior dificuldade foi ter tantos contra fora e dentro máquina institucional. Uma boa idéia, um bom projeto, mas anda devagar. Por quê?Coordenação centralizadora, sem capacidade de reconhecimento do bom êxito do trabalho de uma equipe pode destruir um projeto ou pior deixá-lo desmoralizado.

 

3) T.G.: O que te levou a optar pelo caminho do Meio Ambiente e Proteção Social?

E.A.: Um olhar crítico desde a adolescência, leituras importantes na juventude, formação na área da sociológica quando aprendemos a observar e atuar dentro da sociedade que vivemos, com foco no sistema.

 

4) T.G. : Dentro de um contexto holistico, o que te chama mais a atenção quando o assunto é INCLUSÃO SOCIAL e OCUPAMENTO URBANO? E a problemática do uso indevido dos Recursos Hídricos?

E.A.: O Sofrimento. O cidadão não se considera assim com esta denominação. Ele espera por uma política pública, espera pelo financiamento do banco; espera para poder pagar as prestações do material para construção. No momento que ele chega a uma dessas vias, ótimo, mas quando ele não Consegue, sua única saída é a área risco e daí... A problemática do uso de água é pauta constante em várias mesas de negociação e encontros de autoridades, principalmente em países onde o recurso hídrico é escasso. O que falta ao Brasil para uma conscientização no uso de água? Ha informação suficiente chegando às pessoas? Não, ou muito pouco. Cidadão de qualquer classe social considera a água um bem fundamental, mas não internaliza que ele é finito. Em tempos de seca há rodízios de dias nos bairros periféricos, mas não chega às áreas mais centralizadas que não sabemos que é isto, Os Comitês de Bacias, foi de grande avanço em termos de gestão mais precisa mais.

 

5) T.G.: Na sua opinião, os grandes centros urbanos, principalmente os localizados no sudeste, esgotaram sua capacidade de absorção de pessoas? E pra que direção o eterno fluxo migratório está apontando?

E.A. : O atual fluxo migratório atualmente atende ao crescimento da economia no Brasil. Há um grande retorno das pessoas oriundas dos Nordeste voltado para sua terra por oferta de trabalho na lavoura que antes não existia, indústria exportadora de frutas, etc. Trabalhadores de vários lugares indo para litoral do Rio em razão do pré-sal. E, outros em região portuárias.

Contatos com Elizabeth Avelino: elizabethavelino@uol.com.br